Ir. Marli, IMC em Moçambique enfoca: um testemunho de Vida Doada de Pe.Bernado, Missionário Redentorista.Veja!

Diário de um missionário

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“Imagine uma área maior que o Distrito Federal, com estradas sem asfalto e com apenas uma pequena vila no meio do município. Com mais de cem povoados espalhados por montanhas e vales, alguns deles distantes mais de 80 km da vila principal, uma viagem de aproximadamente quatro horas. Sem eletricidade na maior parte das aldeias, e água corrente não tem em qualquer lugar. Imagine mais, um distrito sem sistema de correios, sem telefones fixos. Mas ao mesmo tempo com uma rede de comunicação celular por cabo ótico, cobrindo toda a área rapidamente.  Aqui a maioria das pessoas vão descalças para trabalhar nos campos, para rezar em suas igrejas e para comprar e vender no mercado. Eles falam uma língua Bantu, Chichewa, e a maioria deles não pode falar uma palavra da língua oficial de Moçambique – Português!  Uma minoria da população é de fervorosos católicos praticantes, mesmo que eles não tendo nenhum sacerdote no meio deles por mais de trinta anos por causa das guerras!

Se você pode imaginar tudo isso, então você começou a imaginar a área onde vivemos e servimos, aqui em Furancungo – Tete, em Moçambique.

Pode parecer assustador, mas há um lado positivo. As paisagens são maravilhosas, com montanhas majestosas, vales verdejantes, nascer do sol e entardecer espetaculares. Água cristalina e pura é encontrada nos poços profundos. Há um clima agradável, quente durante o dia, frio à noite. Milho, feijão, amendoim e manga, cana, abóboras, tomates, batata-doce, tabaco, todos crescem em abundância no solo rico. As pessoas são alegres e acolhedoras. As mulheres se vestem com roupas coloridas brilhantes. Eles têm um senso de humor, gostam de cantar, dançar, tocar batuque na missa, nos casamentos, aniversários, batizados, sempre que eles podem encontrar uma desculpa! Eles vivem felizes numa simplicidade monástica.

No momento somos três confrades nesta nova Missão Redentorista em Moçambique e Malawi: Pe. Michael Dempsey, Pe. Junior e eu, Bernardo, depois de ter passado 43 anos no Brasil, agora estou em Moçambique há três anos. Não é fácil para mim aprender a língua Chichewa que é falada por cerca de 18 milhões de pessoas. O povo, CHEWA, foi dividido pelos colonizadores em cinco países modernos: Malawi, Zimbabwe, Zâmbia, Tanzânia e Moçambique. Eles me contam que há mais de um milhão de pessoas que falam Chichewa na África do Sul, migrantes em busca de trabalho.

Aqui tem uma história fascinante. As pessoas sofreram profundamente durante trinta anos de guerra. Estradas, pontes, escolas, edifícios e igrejas foram destruídas. Os sacerdotes que viveram aqui naquele tempo foram presos ou deportados, tanto pelos colonizadores portugueses ou pelo Governo marxista revolucionário depois da independência. Durante anos o povo católico se manteve firme, sem padres. Mas sempre sonharam e rezaram por missionários que viessem caminhar com eles. A diocese de Tete não tem possibilidade de suprir essa necessidade por muitos anos. Por isso nós fomos convidados pela diocese para vir e acompanhar nesta área mais abandonada. O que eles querem de nós em primeiro lugar: celebrar a Eucaristia com eles, batizar seus filhos e os numerosos catecúmenos adultos, ouvir as suas confissões. Também eles querem formação e estudo da Bíblia, querem aprofundar a compreensão da fé cristã, construir suas capelas nas aldeias e, eventualmente, construir uma igreja paroquial decente no centro da paróquia aqui na vila de Furancungo. Eles querem que a gente visite os doentes e trazer-lhes o conforto dos sacramentos. Nos chamam para suas casas para abençoar seus filhos, que, por vezes, têm tanto medo de bruxas e feiticeiros que nem conseguem dormir à noite. Eles sempre pedem-nos para abençoar as pessoas atormentadas por mãos espíritos, para dar-lhes esperança de cura.

E assim cada dia caminhamos aprendendo um pouco mais da língua, da cultura, do jeito africano de fazer as coisas. E pouco a pouco vamos nos sentindo cada vez mais em casa, concretizando aqui no meio desse povo nosso sonho redentorista, indo para onde a igreja não pode ou não quer chegar, evangelizando e sendo evangelizados por esse povo de Deus, nossos companheiros, mestres e alunos Chewa”.

(Pe. Bernado, Missionario Redentorista)

N.B. Repassado por Ir. Marli, IMC, com autorização do autor.